domingo, 30 de outubro de 2011

AI-5, a censura e os artistas.

(...) O movimento militar de 1964 encerrou um período de liberdade política como nunca havia existido no Brasil até então. Nos anos que se seguiram, as liberdades públicas foram eliminadas progressivamente até que, em dezembro de 1968, o Executivo decretou o AI-5 e passou a concentrar poderes excepcionais, transformando o regime político praticamente numa ditadura, cuja fase mais violenta e repressiva estendeu-se até 1974.

No decorrer do período, surgiram várias formas de resistência à ação repressora do regime nos planos político, sindical e cultural.No plano político-parlamentar, vários deputados e senadores perderam os seus mandatos por desferir críticas duras e corajosas ao regime recém-instalado. Grupos de oposição mais extremistas desistiram de combater o governo por meio de palavras e resolveram organizar movimentos guerrilheiros para tirar os militares do poder pela força das armas.O movimento operário também tentou reagir às restrições das ações sindicais e ao arrocho salarial imposto pelos militares por meio de greves em 1968, em Osasco (SP) e em Contagem (MG).No plano da cultura, foram inúmeras as manifestações de resistência. A primeira ocorreu em dezembro de 1964, com o "Opinião". Mistura de show musical e teatro, por meio de denúncias e de músicas de protesto, ele buscava sensibilizar o público a se engajar na luta contra o regime militar.Os festivais da canção organizados pela TV Excelsior de São Paulo, em 1965, 1966, 1967 e 1968 foram grandes oportunidades para que cantores e compositores manifestassem sua oposição ao regime militar, devido ao enorme alcance que essas apresentações tinham entre os jovens.
O ambiente político que vigorava no país na época exercia influência direta na preferência do público e dos jurados. Isso ficou evidente, por exemplo, em 1966, com as músicas "A Banda", de Chico Buarque, e "Disparada", de Geraldo Vandré, e em 1968, com "Sabiá", de Chico Buarque e Tom Jobim, e "Caminhando", também de Geraldo Vandré.
Em graus diferenciados, de maneira explícita ou sutil, todas essas canções criticavam aspectos do sistema opressivo que imperava no país. A preferência do público por músicas de protesto, de conteúdo mais explícito, como "Caminhando", deu origem a uma rica discussão cultural e estética. (...)

*Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC



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Um dos que expressaram sua opinião e ideias foi Geraldo Vandré (nome artístico), seu nome na certidão é Geraldo Pedrosa de Araújo Dias,  nasceu em 12/09/1935.  Desde criança, demonstrava o desejo de se tornar um cantor de rádio, onde participou de vários festivais no colégio onde estudava. Em 1951 mudou com a família para o Rio de Janeiro, onde conheceu muitas pessoas ligadas ao meio artístico, como compositores.  Quando Geraldo entrou na faculdade, se ligou a um movimento estudantil.
Conheceu seu parceiro Carlos Lyra que gravaram juntos algumas músicas, e em seguida, conquistou seu primeiro LP. 
Depois do seu primeiro LP, Vandré participou de vários festivais, teve suas músicas interpretadas por grandes nomes como Jair Rodrigues, entre outros.
No ano de 1968 "Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores)" conquista o segundo lugar no festival da TV Globo, apesar de ser favorita do público, perdendo para "Sabiá" (Chico Buarque/ Tom Jobim).
Com a promulgação do AI-5 e o acirramento da ditadura, foi exilado, e morou no Chile, França, Argélia, Alemanha, Áustria, Grécia e Bulgária.
Nos 4 anos que ficou fora do Brasil, Vandré tornou-se uma espécie de "mito" da resistência à ditadura, por ter ficado sem fazer shows no Brasil desde 1968. Apresentou-se no Paraguai em 1982 e 1985, rompendo mais de uma década de silêncio. Mais tarde compôs "Fabiana" em homenagem à FAB (Força Aérea Brasileira). Nos anos 90 foram lançadas coletâneas com obras suas.



Geraldo Vandré - Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando)

Em 1968,  Geraldo participou do III Festival Internacional da Canção com Pra não Dizer que não Falei das Flores ou Caminhando. A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar durante o governo militar, e foi censurada. O Refrão "Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer" foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores. No festival a música ficou em segundo lugar, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música Sabiá foi vaiada pelas pessoas presentes no festival, exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré.
Simone foi a primeira artista a cantar Pra não dizer que não falei de flores após do fim da censura.